Do que [não] nos dizem

Quando estava grávida as mulheres com quem me cruzava diziam-me 'maravilhas da maternidade' e de o Amor desmedido que sentiram quando os filhos nasceram. Quando a nossa bebocas nasceu e a colocaram no meu peito fui invadida por uma sensação de alivio por finalmente a ver, por ela estar bem, por ser perfeitinha, saudável e linda linda. Depois tive uns instantes de pânico e de me questionar: serei capaz? Mas aqueles olhinhos a olharem para mim fizeram com que colocasse essas dúvidas de lado.

Depois veio o que ninguém conta, a nossa bebocas chorava dia e noite, dormia meia hora à noite. Só isso, meia hora. Tive de dar a mão à palmatória e depois de o meu marido ir para Angola tive de ir para casa dos meus pais. Eu e a minha mãe fazíamos turnos porque depois de andar noites seguidas a dormir meia hora não há corpo que aguente. Eu dormia das 21h até às 2h e a minha mãe dormia das 2h às 7h. A minha mãe ía trabalhar e eu ficava a tomar conta da nossa bebocas chorona. E aí chegaram as imensas dúvidas e inseguranças. As questões começaram a formar-se na minha cabeça: eu que tanto desejei esta bebé serei capaz de aguentar? Porque toda a gente me falava nas maravilhas da maternidade e eu sentia-me exausta e no limite do cansaço. Sentia-me impotente e porque não dizê-lo incompetente por ter a minha filha a chorar daquela maneira e não ser capaz de a acalmar. A única maravilha era Ela estar cá fora, ser saudável e perfeitinha. E eu em desespero falava com o meu marido e dizia-lhe que devia ser muito má mãe e que andava iludida quanto à maternidade. (Pelo que me diziam e eu não ser capaz de expressar essas maravilhas).

Andei assim um mês e meio e nesse tempo afastei-me das pessoas. O meu tempo livre era para dormir. A primeira vez que dormi 7 horas seguidas depois dela nascer senti-me mal com dores de cabeça, vómitos e tonturas. 

Depois de um mês e meio a bebocas mudou (graças a Deus) e passou a dormir e eu física e psicologicamente fui-me restabelecendo e veio novamente o convívio. E foi aqui que comecei a ser bombardeada coma pergunta: então a tua bebé deixa-te dormir? E depois vinham as histórias das noites mal dormidas, do cansaço, da exaustão e esta conversa vinha das mesmas pessoas que falavam das tais maravilhas. E eu confesso, senti-me enganada porque só me contaram as coisas bonitas enquanto estive grávida e durante um mês e meio andei a questionar-me como mãe e a questionar as minhas capacidades e a sentir-me um completo ET porque dei ouvidos (demasiados ouvidos) às histórias dos outros.

Agora com a nossa bebocas quase a fazer cinco meses a minha perspectiva mudou. Até posso ouvir as historias dos outros mas filtro muito bem o que me dizem e não faço conversa sobre o que a minha filha faz com esta idade. As suas conquistas são partilhadas apenas com quem queremos e não há cá conversas de: ah mas o meu filho com essa idade já fazia muito mais, etc, não há paciência para isso.

A fazer quase cinco meses sei que este ser pequenino me enche as medidas e que a Amo imensamente. Que ela veio mudar o meu mundo e eu tornei-me (e todos os dias me torno) um ser humano melhor graças a ela.